sábado, 19 de julho de 2008

Mas é sempre assim???

A Termografia é uma arte exigente... Não basta entender que os objetos irradiam calor, e que podemos ver esse calor irradiado com um aparelho sofisticado.

Há que entender o que se vê, ajustar o como se vê, os limites, a divisão entre as cores que o aparelho trabalha e só então aplicar nosso cérebro-mente para, além de ver, compreender o que se vê.

Apertar o botão "Automático" qualquer um faz... E o óbvio, apesar de muitas vezes ser o mais dificil de distinguir ("Estava na minha cara e eu não vi!!!") parece sempre mais acessível pelos atalhos do conforto. Pois é... A natureza nos fez preguiçosos... O que explica mas não justifica.

As imagens térmicas quando apresentadas, parecem maravilhosas e mostram muitas coisa interessantes...

Mas... é sempre assim?

Veremos que PODE ser assim, mas não é SEMPRE assim...

Vamos analisar uma mesma imagem térmica:



Nessa montagem de três termogramas acima, com o ajuste original da câmera, e sem aplicação de paletas de côr, além das formas da modelo, não há muitas informações interessantes.

Mas mudemos a apresentação para algo mais facilmente compreensível para nossos olhos e mente:


Hummm... Não mudou muita coisa. Tentemos outra distribuição de cores...
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Ahhh... Agora sim!!! Agora ficou nítido que existe uma assimetria entre a mama direita e esquerda. Há uma área em azul nitidamente definida na mama esquerda. De acordo com a codificação de cores utilizada nessa imagem, azul é mais frio, vermelho mais quente e branco mais quente ainda. O que seria essa mancha azul?

Massa adiposa? Implante de silicone? Baixa vascularização? Ou será que área azul é a normal e a contra-lateral em tons mais aquecidos, verde-azulados é que revela algum problema?

O corpo humano é complexo demais para um diagnóstico simplificado. O perfil térmico da pele humana que visualizamos pelo infravermelho é o resultado de multiplas causas: circulação sanguínea (que aquece a pele trazendo calor de outras regiões - e por isso mesmo resfriando-as), vasoconstrição ou vasodilatação, de origem vascular ou nervosa (dermátomos por exemplo), processos bioquímicos diversos, atenuação devido às camadas sobrepostas da pele, processos inflamatórios, vasodilatadores como o óxido nítrico, angiogênese, ou simples e pura particularidade anatômica.... e por aí vai...

Talvez seja por isso que o meio bio-médico ainda se debata entre a validade ou não desse método.

No entanto, não existe problema sem solução.

Assim, métodos diferenciais podem ser aplicados na triagem da causa principal do aquecimento ou resfriamento de uma determinada região da pele.

Vejam por exemplo essa imagem abaixo. A suspeita era que a paciente tivesse algum problema na tireóide. Mas tradicionalmente, a tireóide como uma glândula fina e de pequena espessura, era sempre tida como não-detectável pelo infravermelho.



Mas se aplicarmos algumas técnicas de diferenciação, tanto na paciente como no processamento da imagem, vejam quem aparece para o jantar!!!!


(Clique sobre o Termograma para vê-lo ampliado)


Curiosamente a imagem térmica obtida assim é muito similar à obtida por injeção de radioisótopos (Iodo-131 no caso) só que sem os riscos iminentes à injeção de um contraste radioativo. Nada é injetado no paciente. Apenas é analisado o infravermelho que o mesmo emite naturalmente.

Imagem da tireóide por Radioisótopo Iodo-131

Ou seja, a termografia tem muito mais a mostrar do simplemente à primeira vista!!! A questão é saber pensar e extrair dali o máximo possível. Há inumeros recursos à disposição. Basta saber combiná-los para enxergarmos o que nos interessa.

Aliás, o infravermelho térmico comercialmente disponível nas câmeras de hoje em dia, possui 23 vezes mais informação disponível do que a luz visível.

O segredo para enxergar o que já está ali é a peçinha atrás do aparelho! 8-))

Consultor Médico: Dr. Hermenio C Lima, Md PhD